segunda-feira, 26 de maio de 2008

O Vestido

A prima resolveu casar e só avisou em cima da hora que ela seria madrinha. Era só o que faltava, mais um casamento para ela se preocupar, escolher roupa, cabelo, maquiagem, bolsa, sapato, brinco, cordão, anel... Mas família é família, a conversa é uma outra completamente diferente.


Ainda assim, ela enrolou. Escolheu a cor e avisou. Queria o verde, que combinava com seus olhos. Verde escuro, porque seu cabelo era claro, e ela não queria ficar parecendo uma coisa pálida e esquisita nas fotos. Queria o verde escuro.


Fez vários rabiscos do vestido. Tudo que via pela internet, copiava. Abriu uma pasta na área de trabalho só para organizar as imagens, mas continuou enrolando.


Ligou para uma costureira conhecida, avisou sobre a ocasião e perguntou se ela faria o seu vestido. Mentiu, disse que tinha todo o desenho já pronto e a cor definida. Só precisava saber que tecido comprar. A costureira disse, marcou hora e sugeriu o preço. Ela combinou, mas não foi.


Mas a enrolação tinha de terminar. Faltava menos de um mês para o casamento e ela decidiu tomar vergonha na cara e tomar alguma decisão quanto ao que vestir. Estava mais do que claro que a idéia de mandar fazer tinha ido por água abaixo, então pesquisou lojas de festas e pensou em alugar.


Foi, sem esperanças, a um lugar conhecido por ter várias lojas no mesmo prédio, morrendo de medo de que todas as peças tivessem lantejoulas, strass e afins. Tinha pavor de tecidos muito brilhantes, modelos muito berrantes e vestidos muito esvoaçantes.


Começou pelo andar mais baixo, pretendia ir subindo conforme fosse quebrando a cara. A vendedora não ajudou logo de início, dizendo que seu tamanho possivelmente era um 40. Que bela tonta, pensou. Não imaginava como poderia vestir 40 ali se, em todas as lojas, ela nunca passava do P ou do 38. Mas continuou ignorando suas sugestões e procurando pelas araras.


E lá estava ele. O vestido. Tomara que caia, verde escuro. Dependendo de onde a luz batia, alguns reflexos pretos marcavam o movimento do tecido. Era perfeito, com sua saia rodada e sua cintura marcada. Era 40, mas ela experimentou assim mesmo.


Melhor do que estar certa é provar que os outros estão errados. Especialmente quando os outros te chamaram de gorda. Sobrou um palmo de vestido, mas antes largo que apertado. Pelo menos poderia apertar.


Era isso. A primeira loja, o primeiro vestido. O único vestido. Meses de enrolação resolvidos em poucos minutos. Missão cumprida.


E lá foi ela ligar para todo mundo, para contar como era lindo o vestido que a fez sentir-se como uma princesa no tapete vermelho.