terça-feira, 25 de novembro de 2008

Não é você, sou eu...

Só podia ser brincadeira, era muita audácia do infeliz, ela pensou. Provavelmente, estava mais irritada por ter sido pega de surpresa do que pela situação em si. Embora a situação inteira fosse mesmo muito clichê.

Haviam passado o fim de semana perfeito longe da cidade, feito todas as coisas divertidas que um casal faz quando finalmente consegue contrabandear algum momento a sós, distante da dinâmica enlouquecida de uma semana normal, lotada de trabalho 30 horas por dia.

Era eu te amo pra cá, você é linda pra lá, não sei como eu pude ter tanta sorte de te encontrar acolá. Tanta doçura que poderia matar um diabético e agora lá estava ele. Sentado à sua frente, numa mesa vagabunda de bar, daqueles bem lotados, em que você mal consegue ouvir seu próprio pensamento. Palhaço. Tentando evitar que ela fizesse uma cena quando ouvisse sua covardia dita em voz alta.

- Não é você, sou eu. Eu queria tanto que as coisas não tivessem mudado pra mim, você é tão perfeita, eu não queria fazer isso, blablablabla.

Idiota. Não podia ter se dado ao trabalho de mudar ao discurso? Essa devia ser a terceira vez que usava a mesma ladainha, talvez com uma leve alteração aqui ou ali. Ela sempre achava que aquilo era desculpa para tirar férias do relacionamento, só para dar tempo de pegar uma vadia aqui ou ali. Não necessariamente alguém específico, qualquer uma serviria. Embora ela tivesse certeza de que a primeira vez tinha sido por causa da secretária da academia. Mas ela sempre dava uma chance pro verme, para o desgosto das amigas.

Era infalível, no dia seguinte ele sempre voltava, com o rabo entre as pernas. E aí ela sabia que as outras, ou as supostas outras, não significavam tanto quanto ela. Ela sabia que era especial.

- Eu acho que nós estamos nos distanciando, você querendo viajar pra Europa e tal. Mas eu já fui pra Europa. E pros EUA. Eu já vivi isso tudo, você ainda tem muito pra viver, eu não quero impedir seu crescimento, seu futuro. Você é forte, ainda tem tanta coisa pra conquistar... Você sabe que eu te amo, né gatinha?

Que ódio. Ela respirou fundo e repetiu trezentas vezes para si mesma que estava calma e que não valia a pena se abalar. Ok, ele ia mudar de idéia e tudo ia voltar ao normal. Mas será que era isso que ela queria?

Olhando praquela cara estúpida, ela mal conseguia encontrar uma razão sequer para se submeter àquilo. Ele queria outras mulheres? Então bom proveito, porque não seria ela a mosca morta que ia esperar ele se arrepender. Ela não precisava daquilo!

Ela olhou ao redor, olhou bem para ele e disse.

- Quer saber? Você tem razão. Não sou eu, é você. Você é um babaca. Um babaca sem tamanho. Um tremendo filho da puta e eu não sei por que eu perco meu tempo com você.

- Linda... Pra que essa cena? A gente tá aqui conversando civilizadamente...

- Cena? Você acha que isso é uma cena?

Ela pensou em ficar quieta, levantar da mesa e dar as costas. Deixar ele falando sozinho e ignorar toda tentativa de contato que houvesse depois daquilo. Seria mais digno. O que uma mulher de classe faria. Aí o garçom finalmente apareceu com o mate que ela já tinha pedido há uns 45 minutos, muito antes de toda aquela conversa começar... Ela olhou pro copo de gelo, o maldito copo de gelo que ela não tinha pedido. Aliás, ela tinha sido bem enfática quanto ao “sem gelo, por favor”.

Então ela olhou pra ele de novo. Engraçado como ele parecia mais idiota a cada minuto. Ela sorriu. Então levantou da mesa... E acertou um soco bem acertado no olho dele. O bar ficou instantaneamente em silêncio enquanto ela calmamente abriu o copo de mate e derramou tudo na cabeça dele.

- Acho melhor você colocar gelo nesse olho, essa merda vai ficar roxa amanhã. – Ela empurrou o copo de gelo na sua direção.

O silêncio logo foi substituído por uma salva de palmas entremeada pelos inevitáveis “o que aconteceu, você entendeu o que aconteceu?”. Ninguém entendeu, mas todo mundo gosta de uma boa confusão.

Ela pegou a bolsa e deu as costas. Sem um pingo de vergonha... Deliciosamente vingada...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

[Insira aqui o título deste poema]

Hoje eu te amo.

Amanhã, não te amo mais.

O amor é dessas coisas que te fazem voltar atrás.

Então eu mudo de idéia e, no outro dia, já penso que te amo demais.

Até o dia em que acordar e descobrir

Que não te amei jamais.