sábado, 5 de setembro de 2009

Criancices

A menininha na van cutuca meu ombro:

- Por que você está com essa blusa?
- É um vestido.
- Por que você está de vestido?
- Porque eu estou indo a um casamento.
- Você vai casar?
- Não, é a minha amiga.
- Por que ela vai casar?

A minha resposta:

- Porque ela quer, ué.

A resposta do pai dela:

- Porque ela ama o príncipe dela.

Ela dá uma risadinha...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ventanias, portas e panelas de pressão

Cheguei em casa em meio a uma ventania, agradecendo por não ter começado a chover o tanto que todos estavam prevendo, já que estava carregando mil sacolas.

Antes de tomar banho, resolvi adiantar parte do jantar. Peguei todos os ingredientes e comecei a preparar a carne assada. Refoga, tempera, fecha a panela e fui para o banho.

Adoro banho quente depois de exercício, é uma das coisas mais relaxantes desse mundo. Qual não foi meu desespero, no entanto, ao ouvir um sonoro POOOW vindo do que imediatamente supus que fosse, é claro, a minha panela de pressão explodindo.

A verdade é que eu nunca vi uma panela de pressão explodir, então nem saberia dizer qual é o barulho que faz. Mas naquele momento, talvez pela própria Lei de Murphy, tive certeza de que só poderia ser aquela a fonte do esporro.

Enrolei-me na toalha e saí pingando pela casa num misto de pressa e vontade de nunca chegar até a minha cozinha, imaginando que o cômodo mais branco do apartamento já se encontrava num misto de molho, carne e temperos espalhados do teto ao chão, nojentamente dispostos de forma a gerar o máximo trabalho para limpar.

Cheguei na cozinha de fininho, como se não quisesse assustar ninguém, só para encontrar minha panela calmamente chiando, em seu lento processo de cozimento do meu jantar. Shhhhhhhh... Completamente diferente do maldito POOOOOOOOOOOOOOOOOW que me assustara 5 minutos antes.

Aumentei o fogo, só para garantir que eu conseguiria ouvir o sonoro chiado mesmo debaixo d'água, e tentei ignorar os estrondos provenientes de uma porta ou janela, insistentemente batendo por causa da tal ventania que anunciava a tal tempestade.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Liberdade de intrusão

As pessoas estão ficando mais abusadas, isso é um fato. Ninguém se abstém de fazer comentários a estranhos, por mais inapropriados que sejam. Eu mesma, volta e meia, me pego chamando um fulano de porco por ter jogado lixo no chão.

O interessante é que agora as pessoas estão se sentindo mais à vontade para dar lições de moral para os outros, do tipo pra fazer o lugar inteiro se concentrar na existência de um indivíduo que irá, em questão de segundos, lamentar não ter a capacidade de um avestruz, para cavar um buraco no chão e esconder a cara.

Eu já fui uma dessas vítimas, quando, outro dia, um senhor com dificuldade de fala resolveu me cutucar e perguntar se poderia me dizer um negócio. Tolinha, disse que sim. E então ele encheu a boca para dizer que eu deveria mastigar o meu chiclete com a boca mais fechada, porque era mais bonito e que ele já tinha feito muito aquilo quando era novo, blablabla. Em meio à minha vergonha, segurei a língua para não mandá-lo para aquele lugar e perguntar se tinha sido mastigar chiclete de boca aberta que tinha deixado ele falando daquele jeito. Vai que o cara teve um derrame e eu sem a tal capacidade de cavar o buraco no chão, não ia ter como fugir de uma vergonha dessa.

Engoli e fiquei quieta, mas queimando por dentro.

Ontem testemunhei a vergonha alheia.

A pobre gringa, com suas malas e Havaianas, cometeu o erro de se acomodar no banco do metrô e colocar um dos pés, descalços, sobre o banco. Com a cabeça apoiada sobre o joelho, ela conversava com a amiga em algo que eu supus ser russo, mas podia ser qualquer outra língua estranha, até Klingon.

Eu estava entre ela e uma outra mulher, que, ao levantar-se para descer em sua estação, decidiu parar para perguntar à gringa, com toda a simpatia do mundo, qual era o nome dela. Já que eu cismei que a coitada era russa, digamos, a título de ilustração, que ela tenha dito Olga.

E foi então que a mulher descarregou sobre Olga toda a sua fúria quanto ao pé sobre o banco.

- Porque aqui não é a sua casa! Na sua casa, você bota o seu pé no seu sofá! Aqui outra pessoa pode vir a sentar, não é certo você botar o pé num lugar público, em que outras pessoas sentam. E aqui não é a sua casa e nem é o seu país. Então, você tire o pé do banco!

Evidentemente, Olga a ignorou. Em parte porque não deve ter entendido picas do que a louca gritou, mas também porque achou que ela era... bem... louca! Quem é que fica gritando com estranhos assim do nada?

E eu ali, sentada, agradecendo por estar indo para casa, doida por um banho, pensando como se dizia em russo, ou em Klingon, "Desculpe, ela fugiu do Pinel. Aproveite a nossa cidade e volte sempre!".

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pensamento do dia

"O fanatismo consiste no ato de redobrar esforços por conta de se ter esquecido dos objetivos." --- George Santayana

O fanatismo é uma contração do refinamento. O fanático redobra seus esforços para não ter que pensar e descobrir que está perdido. Quanto mais esforço, menos pensamento. O uso do esforço para compensar objetivos demonstra que o fanatismo é cego. Talvez ainda mais perverso é o fato de que o fanatismo se apresenta como uma expressão de objetivos absolutos. Esta é uma reação bastante comum no ser humano: quando ele não sabe estabelecer objetivos e crenças ele impõe objetivos e crenças a si e aos outros. É um mecanismo de defesa onde a insegurança e a dúvida são combatidas com certezas e obsessão. O fanático é um cego que não sabe que é cego.

(Rabino Nilton Bonder)

Penso, logo cogito possibilidades.

(Eu mesma, depois de ler o texto encaminhado por mamãe)