domingo, 28 de março de 2010

Cotidiano

- Algo de errado? Você está estranha.

- Não sei se te amo.

- Quem falou de amor?

- Eu. Na verdade, falei que não sei se te amo.

- E de onde veio isso?

- De mim. De lugar nenhum. Estava pensando no que sinto por você e percebi que não sei se te amo. Mas sei que gosto de você.

- E isso não é um começo?

- Acho que sim. Será que eu deveria te amar?

- Não sei.

- Você me ama?

- Não sei. Eu gosto de você.

- É um começo.

- E é por isso que você estranha?

- Não. Estou pensando no que fazer para o almoço amanhã. Quero impressionar sua família.

- Fica calma. Eles vão gostar de você. Não importa o que você fizer para o almoço.

- Pensei em fazer peixe.

- Minha mãe não gosta de peixe.

- Tá. Eu penso amanhã.

- Vamos dormir?

- Vamos. Boa noite.

- Boa noite.

- Me abraça?

terça-feira, 23 de março de 2010

Cuidados

Se cuida. Havia poucas expressões que a irritassem tanto quanto 'se cuida'.

Continha uma forte carga de 'agora que você está sozinha', 'que não é mais problema meu', 'que eu não estarei aí pra cuidar de você'. Quase um 'se vira'.

Era, na grande maioria das vezes, um adeus, ou, no mínimo, um até logo em que o logo nunca chegava.

Até que ela descobriu que 'se cuida' poderia vir acompanhado de saudade genuína, de vontade de estar perto pra cuidar de verdade. E o 'se cuida' passou a vir com sobrenome.

'Se cuida, do jeito que eu cuido de você'.

E ela parou de se incomodar tanto.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Amorico

Acho lindo isso de namoro de portão, daqueles quase de criança, de ter de ficar sempre à vista e tomar cuidado pra não fazer nada que alguém possa desaprovar.

Daqueles em que se dá mais valor às coisas pequenas, tipo beijar na boca, pegar na mão, dedicar música que lembre aquele dia legal em que vocês tomaram sorvete juntos pela primeira vez, mais beijo na boca, mandar recadinhos românticos, escrever cartas de amor tão ridículas quanto cartas de amor devem ser, dizer que gosta, gosta mesmo, gosta de verdade de alguém, de sentir borboletas voando na barriga.

Gosto da ideia do namorinho bobo, sem preocupações, sem todos os problemas que só gente grande consegue inventar, parece que só pra estragar algo que as meninas acreditam, como princesas que são, que pode fazê-las felizes para sempre.

Às vezes, eu sinto falta dessa inocência.