quarta-feira, 27 de março de 2013

Ex

Piscou a janelinha do mensageiro e Marina viu o nome de Carlos conversando com ela. Era a primeira vez em quase 7 meses desde que se separaram.

- Saudade de você descalça pela nossa casa.

- Você odiava meus pés.

- Eu odeio pés.

- E a casa era minha.

- Eu passava mais tempo nela do que na minha, já via como minha casa.

- Eu passo mais tempo na agência do que em casa e nem por isso considero minha.

- Meu Deus, tinha esquecido como você é exagerada, Marina.

- O que você quer, Carlos? Eu esqueci de te devolver a camisa do Boca?

- Você tava com a camisa do Boca?

- Não.

- Marina?

- Sim, mas não pretendo devolver.

- Saudade de você com a minha camisa do Boca.

- Não vou te devolver.

- Quero te convidar pro lançamento do meu livro.

- Você escreveu um livro?

- Sim.

- Sobre?

- Em grande parte, sobre você.

- Que?

- Você foi um capítulo importante da minha vida. Tomei liberdade poética pra te transformar num livro todo.

- Puta que pariu.

- Que?

- Sou uma bruxa? Um alienígena devorador de almas? Algo tipo o predador? O que você fez, Carlos?

- Tinha esquecido como você era dramática.

- Carlos?

- Você é a heroína, Marina. É uma história de amor. Eu acho.

- Que?

- Eu te amo, Marina. Sempre te amei. Não te amo do mesmo jeito. Mas sempre vou te amar.

- Quando é o lançamento?

- Sábado.

- Ok.

- Mandei o convite pro seu escritório.

- Ok.

- Ok?

- Ok, ué. Até eu ter lido o livro, é ok. Estarei lá.

- Ok. Saudade de você andando descalça pela nossa casa.

- Eu não vou devolver a camisa. Bjs

- Ok. <3

domingo, 17 de março de 2013

Escolhas

João começou a namorar Ana quando ainda estavam no colégio.

Foi com ela sua primeira bebedeira. Consequentemente, sua primeira ressaca.

Com ela, planejou largar o colégio, desistir da faculdade e se juntar ao circo. Viver em uma comunidade hippie, plantar as próprias comidas e ter 3 filhos.

Ana sempre apoiou suas ideias doidas. Mais que isso, sempre foi doida com ele.

Saltaram de paraquedas, de bungee jump, de asa delta. Fizeram malabarismo no sinal pra fechar a conta daquela viagem de 3 meses pra acampar na Chapada.

Ana correu atrás de editora pra publicar seus poemas quando João decidiu que queria ser escritor. Achou quem filmasse seus roteiros quando seu sonho virou o cinema.

Daí o tempo passou, o vestibular chegou e seu pai deixou claro que essa vida sem rumo não era uma opção. Ou ele escolhia um caminho ou deixava de contar com o dinheiro da família.

João escolheu a engenharia.

E deixou Ana de lado.

Ela ganhou uma bolsa pra estudar artes em Barcelona. Mais tarde, parece, passou um tempo no circo, antes de se firmar como uma grande artista plástica em algum lugar da Europa.

João virou engenheiro. Formou-se com a melhor nota da classe, para orgulho de seu pai.

Logo conheceu Mariana, advogada mais jovem a se tornar sócia da firma em que trabalhava. Moça brilhante.

Com Mariana, João juntou dinheiro para comprar um apartamento. Três quartos, pensando na família que queria formar e no escritório que precisavam ter.

Nunca mais jogou malabares.

Ou saltou de paraquedas.

Bungee Jump.

Ou asa delta.

Nunca mais foi ao circo.

Ou pensou em juntar-se a ele.

Nunca mais escreveu poemas.

Ou roteiros para filmes.

Nunca mais acampou.

Ou foi espontâneo.

João agora planejava tudo nos detalhes.

Era um profissional reconhecidíssimo no seu ramo.

Um verdadeiro adulto.

Mas que saudade João tinha de Ana.