segunda-feira, 1 de junho de 2009

Da simplicidade das coisas

Ela recebeu seu poema. Mais um de tantos. A verdade sobre seus poemas é que ela não os entendia. Sempre a faziam lembrar das aulas de literatura na escola, da professora mostrando poemas para interpretação de texto. Eles eram curtos, eram simples. Embora ela também não os entendesse. Nunca se deu bem com essa coisa de subjetividade, de entender uma coisa onde parecia estar escrita outra.

Ela acreditava em ser direta.

E lá estava o novo poema. Talvez fosse sobre amor, talvez fosse sobre outra coisa. Complicado esse negócio de subjetividade. Esquisito ler aquelas frases longas, com tantas vírgulas e apostos – sim, ela sabia o que eram apostos – e adjetivos e advérbios e exageros. Frases intermináveis, que pareciam dar voltas ao redor de si mesmas, como correndo atrás dos próprios rabos, sem chegar a lugar nenhum.

Todas tão cheias de sentimento, um que quase nunca parecia algo bom, que nunca a fez sentir-se bem ao ler. Talvez não fosse um poema de amor. Talvez fosse sobre perda. Talvez fosse realmente triste.

Era pior do que não entendê-los, seus poemas a faziam sentir-se burra. Como se devesse saber o que ele queria dizer, se não por saber ler, porque ela o conhecia. Mas ela não entendia. Ela se perdia na segunda frase, perdia o interesse e sentia-se mal. Sentia-se culpada. Ela deveria saber...

E lá estava seu novo poema, tão enigmático quanto os outros, rodopiando com seus conceitos rocambolescos, e ela mais uma vez no meio do labirinto.

Então ela desistiu de entender. Decidiu que não era problema dela não entender.

O problema era dele, por não saber como dizer.

Nenhum comentário: