segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Adeus

Luisa queria que fosse um sonho e Caio não estivesse dormindo ao seu lado. Depois de tantos anos pensando naquele momento, definitivamente esse não seria o desfecho que ela teria proposto.

Em sua fantasia mais louca, eles finalmente se perceberiam loucamente apaixonador um pelo outro e se casariam. Teriam filhos. Dois. Um menino e uma menina. Ela sabia que brigariam pelos nomes, mas em algum momento concordariam em algo. Ou não.

Mas lá estava Caio e ela sabia que não se casariam. Não agora. Sequer estavam prontos para namorar, ou assumirem que se gostavam.

Caio era seu melhor amigo há tanto tempo e, ainda assim, eram incapazes de conversar de coisas sérias pessoalmente. Tudo que precisavam dizer um pro outro que fosse minimamente relevante era enviado por alguma forma de mensagem eletrônica. E ele tinha precisado dela na noite anterior.

Algo sobre coração partido. Ela, amiga incrível que era, levou seu ouvido, o ombro, os filmes favoritos dos dois e tudo que precisariam para preparar um Amnésia Nuclear, drink de escolha quando precisavam esquecer alguma coisa. Ou alguém. Ou tudo.

Pois tinha funcionado. De alguma forma, ela deletou tudo entre o último Rocky e o motivo para ela estar ali, nua, debaixo de seu edredom. Levantou uma ponta pra conferir se, sim, ele estava igualmente nu embaixo do mesmo edredom.

Em momento algum ela teve a chance de contar pra ele que estava na dúvida sobre uma proposta de emprego. Agora não estava mais. Era a coisa mais séria que já tinha precisado contar pra ele, grande demais pra mandar por qualquer mensageiro.

Decidiu deixar um bilhete.

"Caio,

Desde sempre fomos os melhores amigos que esse mundo já viu. Nunca conheci nessa vida um casal que tivesse relacionamento melhor que o nosso. Só nos faltou ser um casal. Nunca discutimos por nada sério, você sempre me entendeu e esteve do meu lado quando eu não queria que absolutamente ninguém me visse chorar ou ser fraca. E eu sempre estive lá pra te fazer perceber o quanto você era incrível.

O problema é que eu não sei mais como ser sua amiga. Porque eu te amo.

Desculpe. Não sei se essa é a melhor forma de te dizer, mas tampouco sei fazer diferente.

Percebi outro dia, enquanto você me contava sobre a Mariana, Marina, sei lá o nome dela, que eu não conseguiria mais ser seu ombro e te ver escolhendo elas, se arriscando com elas, quando eu estava ali, tão perfeita pra você, só esperando que você entendesse o que eu já tinha entendido.

Não podíamos mais ser amigos. Ou só amigos. Já éramos além.

E o que quer que tenha acontecido ontem me fez perceber que não posso mais estar perto de você.

Recebi uma proposta pra trabalhar em Londres e decidi aceitar. Ficarei um ano lá, a princípio, mas há a possibilidade de isso se estender indefinidamente.

Pensei em te contar ontem, mas você precisava de mim mais do que eu de você.

Eu te amo, mas não estou pronta pra te perder.

Então acho melhor assim.

Lu"

Ela deixou o bilhete em um lugar impossível de ser ignorado e foi embora. As malas já estavam quase todas prontas, antes de ir pra Inglaterra ela passaria uns dias na casa da irmã em Brasília. Esse detalhe ela omitiu intencionalmente. Não queria ter de vê-lo antes de ir.

Aquela carta era sua despedida.

Caio acordou e procurou Luisa na cama, com um sorriso que se estampou em seu rosto antes mesmo que ele abrisse os olhos. Ela não estava mais lá, mas ele achou a carta rapidamente.

Leu em voz baixa e apertou o papel dentro da mão enquanto disse pra si mesmo:

- Eu também te amo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom! Deu uma raiva estilo Romeu e Julieta (risos).
Quanto mais vivo mais duvido se o amor é suficiente.

Anônimo disse...

Muito bom! Lembrei de Romeu e Julieta e senti a mesma raiva rs.
E quanto mais vivo, mais duvido se o amor é suficiente.