Estava no emprego novo há quase 3 meses e, pela primeira vez, era responsável por cuidar do relatório final do departamento. Muita responsabilidade, mas ela tinha esperado por isso ansiosamente. Sinal de que sua chefe finalmente confiava nela o suficiente.
Parou pra pegar um copo d'água e uma xícara do café horroroso da máquina, a única bebida que podia consumir de graça, e voltou pra mesa. Olhou novamente o relógio. Maldito hábito.
Dessa vez tinha mensagem na tela.
Era Bruno, pra avisar que teria que furar com ela. De novo. Precisava terminar alguns trabalhos na agência.
Sair com publicitários era como sair com médicos, diziam. Não que ela já tivesse saído com médicos. Ou com publicitários.
Merda, ela tinha esquecido que tinha marcado com ele. Estava tão focada no tal relatório que ficou feliz até quando recebeu a mensagem da irmã avisando que não passaria em sua casa com filmes e pizza. Não que ela se lembrasse de ter combinado alguma coisa com ela também.
Carolina tinha passado por muitos empregos detestáveis antes de conseguir a entrevista que a levou ao atual. As amigas a julgavam por isso, mas ela sentia como se estivesse vivendo um sonho e pouca coisa a fascinava tanto quanto o trabalho no momento.
Era difícil convencê-la a fazer qualquer coisa naqueles últimos meses, dava pra contar nos dedos os convites que aceitou pra beber ou jantar ou ver um filme que fosse. E poucas eram as pessoas que ela queria ver.
Bruno apareceu sem querer, uma amiga os apresentou. Eram feitos um pro outro, ela disse. Gostavam das mesmas coisas, aparentemente. As conversas realmente eram legais. Basicamente online, já que ambos tinham pouquíssimo tempo pra marcar de se encontrarem no mundo real. Mas eram boas conversas mesmo.
Ele era engraçado. E parecia bonito pelas fotos. Corpo legal. Não que ela ligasse pra essas coisas.
Quando saíram a primeira vez, tentaram achar um meio do caminho entre os trabalhos de ambos. Assim ficaria fácil pra todo mundo. Ou menos complicado. Nada chique ou romântico em comer petiscos e tomar cervejas de garrafa, mas quem tinha tempo pra romance?
Não transaram. Deixaram essa parte pra um segundo encontro. Ou terceiro. A verdade é que ela tinha uma reunião no dia seguinte cedo e ele tinha uma apresentação que ainda não tinha terminado de montar. Ia virar a noite fazendo isso.
Marcaram o segundo encontro. Ela desmarcou. Marcaram de novo. Ele desmarcou. Marcaram de novo. Choveu. Marcaram de novo. E de novo. E de novo.
Daí o relatório. E ela esqueceu de desmarcar. Tudo bem. Ele estava desmarcando.
Ela olhou pra tela do celular mais uma vez. Estava feliz com a mensagem.
Não que não estivesse interessada nele, mas um relacionamento definitivamente não era seu foco no momento.
Rascunhou a resposta infinitas vezes na cabeça, digitou e deletou algumas outras tantas, até a tela piscar de novo.
- Não fica chateada?
Deu um gole no café horrível - e agora frio - e, finalmente, escreveu.
- Claro que não. Eu entendo.
Pontuou com uma carinha feliz e,antes de voltar pro seu relatório, completou.
- Remarcamos?
3 comentários:
Eu senti como se toda a esperança de que pessoas possam ser felizes juntas estivesse em risco deposi de tudo isso. Por favor, pela sobrevivência da esperança, mesmo em solo árido, remarquem sim.
Eu ri do final, mas é sempre assim que funcionam as coisas na vida de muita gente (inclusive a minha).
Sabe, eu tento deixar de lado essas coisas de romance, mas percebo que é impossível.
Cheguei aqui só agora, por que é que esses cantinhos ficam tão escondidos na internet?
Voltarei!
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