Anna acordou enjoada. Na verdade, estava enjoada fazia um tempinho, mas na última semana tinha piorado bastante e naquele dia ficado insuportável.
Justo ela, que tinha fobia de hospitais, admitiu que não daria mais pra enrolar.
Precisava de ajuda profissional.
Chegou no balcão, entregou a carteirinha do plano, a identidade e explicou à enfermeira o que estava sentindo. Estava morrendo, era claro.
Talvez estivesse ali só para que o médico lhe dissesse quando, assim poderia arrumar as coisas e deixar tudo pronto.
Odiava dar trabalho.
- Anna? Anna?
- Eu! Aqui!
Não demorou muito que chamassem seu nome.
- Anna, o dr. Raul irá atendê-la. Por favor, vá com ele.
Dr. Raul. Anna não sabia se queria ser tocada por um Raul. Enfim. Ela também não queria morrer e talvez fosse o caso.
- Anna. Diga, Anna. O que você está sentindo?
- O que eu NÃO estou sentindo, né? Talvez fosse mais fácil começar por aí.
- Como preferir.
- Estou com taquicardia. E um enjoo que não passa. E volta e meia me dá uns calores, não sei de onde vem, ou pra onde vão, porque somem com a mesma facilidade com que vieram.
- E isso começou há muito tempo?
- Uns meses.
- Meses???
- Sim.
- Mas você procurou um médico só hoje?
- Não gosto de hospitais.
- Claro, faz muito sentido.
- Acho que o senhor está sendo irônico.
Mal se conheciam e ele estava sendo irônico. Homens.
- Preciso que você faça alguns exames.
- Por isso odeio hospitais.
- Bom, preciso descartar qualquer doença séria e os sintomas que você descreveu são meio genéricos.
Anna foi levada pela enfermeira para uma bateria de exames. Testaram seu coração, seu cérebro, hemograma completo, urina e até fezes.
- Anna? O dr. está com os resultados dos seus exames, pode entrar.
Como ela odiava os segundos que precediam a entrega dos exames. Especialmente considerando que eles a tinham testado até o DNA.
- Quanto tempo tenho?
- Você não tem nada, absolutamente nada.
- Como assim NADA? Mas e os enjoos, a dor de cabeça, as tonturas, as pernas bambas, o coração batendo...
Anna foi interrompida por seu celular, tocando escandalosamente um alerta de mensagem.
- Desculpe.
Enquanto botava o maldito no mudo, o médico pôde observar seu rosto corar. Aproveitou e levou o estetoscópio até seu peito e observou seu coração, disparado, pular uma batida. Ou duas.
- Namorado?
- OI? CLARO QUE NÃO!
Três. Talvez quatro.
- Hum. Definitivamente. O que você tem é só amor. Ou paixão?
- Hein? Tem certeza, dr.? Certeza que não é uma virose?
Sim. Uma virose seria bem mais fácil de tratar.
E de explicar.
2 comentários:
Muito bom, gostei do assunto e da forma que abordou. Vou dar uma fuçada geral pra me enturmar com os textos.
Parabéns, só podia ser mulher escrevendo assim =P
Ai, como tô Anna ultimamente...
Parabéns pelos textos! Tô há um bom tempo aqui lendo e não consigo sair do blog!
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