quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Banheiro

Naquele dia, Mariana almoçou rápido e voltou logo pro escritório.

Entrou no banheiro pra lavar as mãos e escovar os dentes e percebeu que alguém estava em uma das cabines. 

Silêncio. Algumas fungadas. Chorando, talvez? 

"Deve ser a menina nova", pensou. "Todo mundo saiu pra almoçar junto, só ela foi sozinha."

Sentiu-se mal. Não conhecia a menina o suficiente nem mesmo pra perguntar se estava tudo bem. 

Lavou as mãos rápido e deixou pra escovar os dentes depois. 

Quis evitar o constrangimento para a menina, imagina sair toda inchada, nariz escorrendo, e dar de cara com alguém? 

Depois ela podia convidá-la pra um café, estender a mão, um ombro. Como quem não quer nada, é claro. 

Isso. Mas só depois. 

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Beth almoçou rápido. Na verdade, engoliu a comida. Tinha feito planos pras duas longas horas de almoço que envolviam qualquer coisa menos ser acometida por uma dor de barriga. 

Talvez fosse o remédio que estava tomando. Talvez fosse algo que tivesse comido. E, nesse caso, seriam muitos os suspeitos. 

Mas nada disso vinha ao caso. Ela precisava voltar logo pro escritório. 

Era bom, já que todo mundo tinha ido almoçar junto, então ninguém estaria lá pra ameaçar seu momento. 

Ela não era do tipo de pessoa que conseguia ir ao banheiro com testemunhas. 

"Ainda bem que eu escolhi um restaurante perto", ela pensou enquanto se apressava. 

Confirmou que o escritório estava realmente vazio e correu um pouquinho mais. Chegou ao banheiro e sentiu aquele alívio. 

Ela tinha conseguido. 

Ufa. 

Beth sentou-se no vaso e, antes mesmo que pudesse fazer qualquer coisa, ouviu a porta abrir. 

"Sério? Quem foi a filha da puta que resolveu vir antes? Todo dia elas tiram mais de duas horas de almoço. Todo dia!"

Prendeu a respiração e concentrou-se em não fazer barulhos, mas não aguentaria muito tempo. 

Fungou. "Merda de resfriado". Ok, a colega já sabia que alguém estava lá. 

"Vai embora vai embora vai embora vai embora VAI EMBORA FILHA DA PUTA você nem entrou em cabine nenhuma, eu tô te ouvindo daqui, tá fazendo o que no banheiro esse tempo todo? Affe, será que ela entrou aqui pra chorar? Pelo amor de Deus, que hora errada pra vir aqui chorar, colega..."

Três minutos. Talvez menos. Foi o tempo que alguém ficou do lado de fora. Mas, pra Beth, podiam muito bem ter sido cinquenta. 

Ouviu a porta abrir e bater na sequência. 

Ela teria esperado um pouquinho, só pra se certificar de que estava mesmo sozinha. 

Mas ela não tinha mais tempo nem pra pensar, então...

Foda-se. 


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