sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Laços

O nosso filho nasceria amanhã, eu fiz as contas. Estimativas de uma hipótese, mas eu fiz as contas.

Você foi embora e eu achei que fosse morrer. Passava mal o tempo inteiro e as pessoas parecem ser levadas a pensar sempre uma única coisa: se está vomitando, só pode estar grávida. Era improvável, mas não impossível. E acho que o psicológico cedeu. Bateu paranóia, achei melhor fazer o teste.

Fiz dois, na verdade.

O primeiro, daqueles de farmácia. Podia sentir a menina comentar com a mãe atrás de mim, na fila do caixa. Observando a embalagem, perguntando o que era, pedindo detalhes. Pra que eu queria aquilo? Juro que a mãe me julgou, como se eu fosse muquirana demais para fazer o teste direito, num médico, ou sei lá.

Como se eu precisasse me sentir mais mal.

O processo é todo horrível, exatamente como eu imaginei. E enquanto esperava, já não sabia mais se queria 1 ou 2 pauzinhos cor de rosa naquele maldito palitinho. Pensei se um filho faria você mudar de ideia, pensei se eu queria ser mãe, em como você seria como pai.

Deu negativo e eu não sabia dizer se sentia alívio ou frustração.

Mas me disseram que não era confiável, então fiz o exame de sangue, pra ter certeza. Nem que fosse pra esfregar na cara de todo mundo que problemas de estômago existem e anticoncepcionais funcionam.

Eu precisava saber.

E não importa a naturalidade com que as atendentes agem. A impressão que dá é a de que, no fundo, elas estão te julgando também. Exatamente como a menina na fila da farmácia. Pensando que você está lá porque fez merda, fez sexo sem camisinha com um estranho e agora está preocupada com as consequências.

Você praticamente espera que elas insiram no questionário, depois de idade, data da última menstruação e medicamentos que você possa ter tomado nas últimas 24 horas, se você pretende abortar. Só para elas poderem julgar você um pouco mais.

O resultado sai em menos de um dia, mas nessas horas o tempo é absolutamente subjetivo. Tenho certeza que se passou uma eternidade, tantas vezes que acessei aquele site. Nunca voltei para pegar a resposta pessoalmente. A internet confirmou que não estava grávida.

Ainda bem. Talvez você tivesse ficado e teria sido ruim. Talvez você tivesse ido embora mesmo assim, e isso teria sido pior.

Nosso filho nasceria amanhã. Por alguma razão, ainda guardava o comprovante do exame na minha carteira. Rasguei o papel em mil pedaços. Finalmente.

Depois quebrei a carteirinha da locadora, que insistia em dizer que eu era dependente de você.

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