Ela era daquelas mulheres lindas o tempo inteiro, mesmo quando acordava. Não fazia ideia do quanto era bonita, ou de qualquer uma de suas qualidades. Pensava ser comum, e ele sabia que ela estava longe disso.
A queria há tanto tempo que perdera a conta de quantas vezes se pegou observando os fios brancos de seu cabelo, achando graça porque aquilo não a incomodava. Talvez fosse a única mulher que conhecia que achava legal ter cabelos brancos.
Conhecia cada detalhe seu, mesmo os mais sórdidos. Vantagens de ser um melhor amigo.
A desvantagem era vê-la chorar tanto assim. Por outro, pior ainda. Alguém que jamais a mereceu, como ele fez questão de ressaltar desde o começo. E, em meio às lágrimas, as besteiras que dizia. Aquela verborragia de imbecilidades. Sobre o quanto ele era mais inteligente, ou mais bonito, ou melhor que ela.
Como podia alguém sofrer tanto assim? Queria tocá-la, mas não sabia o que fazer. Como era possível que ela não entendesse que a perda era dele, e só dele? Que ela era a mulher mais incrível que ele já conhecera?
Ela era linda. Como alguém podia ser linda mesmo chorando? Seu rosto molhado pedia para ser acariciado. Apoiou a mão sobre a sua bochecha e a olhou de verdade, como há muito tempo evitava fazer. Seu lábio estava inchado, depois de tanto chorar. Ela nunca lhe parecera tão irresistível.
Naquele momento, deixou de lado a amizade. Puxou-a para junto de seu corpo e beijou-a como fizera tantas vezes em seu pensamento. Sabia que era errado, mas estava cansado de esperar. Cansado de ser o ombro que a amparava, cada vez por um idiota diferente, que não a merecia.
Ela foi pega de surpresa por aquele beijo. Nunca pensara nele daquele jeito. Era seu melhor amigo desde sempre, seu apoio nas horas ruins, sua companhia nas boas. Sabia que deveria impedi-lo, mas estava fraca de tanto chorar, cansada de tanto sofrer. Estava sozinha, precisando de um pouco de carinho e conforto.
Fechou os olhos e se deixou aproveitar.
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