terça-feira, 4 de junho de 2013

Amuleto

Era sábado de jogo, mas também era sábado de feijoada.

A fome era muita, o tempo apertado e a cerveja, ainda mais naquele calor, estupidamente gelada.

Quem resiste a uma comida bem temperada e uma cerveja gelada?

A companhia, nem precisava dizer, era a melhor do mundo. Mas nem as gargalhadas os faziam tirar os olhos do relógio.

16h apitaria o juiz para o começo da partida.

Perderiam os primeiros minutos. tudo bem. Não é como se o time estivesse fazendo valer tanta a pena.

Mas paixão é aquela coisa, a gente ignora as evidências e os resultados.

Começo lento e cadenciado, os jogadores correndo em campo como carneirinhos a serem contados, tudo pra embalar seu sono que, obviamente, a venceu.

Ela dormiu o primeiro tempo inteiro, deixando pra ele a árdua tarefa de torcer pelos dois.

Foi acordada no susto por um grito de gol.

Anulado, mas suficiente pra que desistisse de dormir.

Ele inclinou-se sobre ela no sofá e começou a beijá-la.

GOOOOOOOOOOOOOOOOL!

Dessa vez válido.

- Você vai ter que me beijar de novo, foi o que deu sorte.

Não por isso, pôs-se a beijá-la novamente.

GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!

36 minutos. Ainda daria tempo de virar.

Estabeleceu acampamento ali em seu pescoço e boca. Melhor não arriscar.

Falta.

O melhor cobrador a postos. Beijos. Beijos. Beijos.

Trave.

Quase virou.

Quase.

Apitou o final de jogo. Juiz ladrão.

Tudo bem, ao menos não perderam.

- Sabe, amor, acho que teremos de ver todos os jogos do campeonato juntos. E toda vez que o time estiver no ataque você deveria me beijar. - Ela sugeriu em um argumento malandramente vazio.

- Nossa. Mas vai ser horrível ter que fazer esse sacrifício todo, te beijar a cada ataque. - Ele quis ser engraçado.

- Eu sei. - Ela se fez de sonsa antes do golpe final. - Mas faz pelo Flamengo.

Esse tinha tudo pra ser o melhor campeonato.

2 comentários:

Brunno Lopez disse...

Devo dizer que cheguei ao seu blog através da Deka. Ela sempre faz algumas sugestões de leitura e eu acabei caindo por aqui.
E gostei do que encontrei, talvez por ser um discurso diferente do que leio diariamente.

Peço desculpas por não comentar sempre mas entendo a importância disso pra quem escreve, principalmente quando é bom.

A analogia da companhia com o futebol é bonita de ler, a gente vê que não é forçado pra parecer coerente, é simplesmente natural.

Parabéns.

Nah Ribeiro disse...

O texto é perfeitamente lindo... Tem um linguagem simples e é gostoso de ler. Não conhecia seu blog, mas agora vai pra lista dos favoritos.