- Flávia?
- Aqui.
- Aqui onde?
- Aqui. No quarto.
- O que você tá fazendo no quarto, mulher?
- Ai, Bernardo...
- E por que você tá no escuro?
- Ai, não acende a luz, merda.
- Você tá de chapéu?
- Sim.
- Maquiada?
- Sim.
- Enrolada no cobertor numa temperatura de 30 graus.
- O ar tá ligado.
- Não, não tá.
- Deve ter parado de funcionar.
- Você tá bêbada?
- Não. Talvez.
- Tá.
- Ok. Tô.
- Cara, o que você tá fazendo?
- Nesse momento, conversando com você.
- Ai, meu caralho. Estamos literais, né? O que você tava fazendo maquiada, de chapéu, embrulhada no cobertor, no escuro, com o computador no colo?
- Vendo fotos de bichinhos.
- Oi?
- De chapéu.
- Hum.
- Pois é, eu quis entrar no espírito.
- Flávia, me explica?
- Ai, é tanta coisa.
- Resume.
- Você viu aquela camiseta ridícula? Então. Eu tava falando dela, comentando como era sexista, daí o pessoal começou a falar que a gente sempre fez propaganda do Brasil desse jeito, vendeu o país assim, agora tem que pagar o preço. Eu adoro quando as pessoas mudam o foco pra desmerecer o assunto, sabe? GENTE UM PORQUINHO DA ÍNDIA COM UMA BOINA.
- Flávia!
- Desculpa. Daí deu uma merda no trabalho. E depois aconteceu uma coisa incrível. E eu queria chorar. Primeiro de chateação, depois de felicidade. Mas mulher de batom vermelho não chora.
- Que?
- É. Não chora.
- O que tem o batom vermelho?
- Ah, uns caras ridículos me cantaram por causa do batom. Ficaram fazendo comentários indecentes porque meu batom era vermelho. E um amigo disse que eu tinha que acostumar porque era assim, se quisesse usar batom vermelho tinha que aguentar chamar atenção.
- Que amigo?
- Nem é amigo, é colega.
- Quem?
- Tanto faz. Idiota.
- Eu?
- Ele, porra.
- Continua.
- Ah, já esqueci. É tanta merda, sabe? Daí eu vim pra casa. E fiz um drink. Acabou o drink. Abri uma cerveja. Acabou a cerveja. Fui jogar. Daí o jogo é daqueles que você joga online, sabe? E eu lembrei que era daqueles colaborativos. E pensa num dia merda pra depender de gente? Pois é. Desliguei o jogo. Tô vendo bichinhos no Tumblr.
- Bichinhos de chapéu.
- Ééééééé. Olha!!!!
- Um poodle de chapéu.
- SIIIIIIIIIIIM!
- Meu amor, eu posso fazer alguma coisa por você?
- Pode. Pode muito.
- Você quer um abraço? Quer ficar de conchinha? Quer um cafuné?
- Não. Traz mais cerveja?
Um comentário:
Bem assim... Adoro seus textos!
Beijão,
Sula.
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