terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Quem ouve o que quer...

Escutar atrás das portas é feio, ele sabia disso. Mas certas coisas parecem que pedem para ser escutadas. Pois lá estava ele passando pela sala dela, daquela colega de trabalho gostosa que ele sempre sonhou em chamar para sair. Coisa boba, um almoço que fosse. Mas gaguejava sempre que a via em sua frente. Ela era linda, perfeita. E o melhor de tudo era que não sabia disso. Então, além de ser uma deusa, era humilde e um doce de pessoa.


Ele gostava de passar perto da sua sala. O corredor tinha sempre o mesmo cheiro dos seus cabelos. Aqueles enormes cabelos ruivos e cacheados. Quem sabe dessa vez ele não tomava coragem para convidá-la para algo?


- Anda, vai... Você sabe que você me quer...


Como ela sabia? Ok... Para tudo... Ela não sabia. Não era com ele que ela estava falando. Mas com quem? Com quem? Quem era o safado que tinha sido corajoso o suficiente para passá-lo pra trás?


- Vai... Você me acha uma delícia, para de negar. Tá se controlando pra não passar a língua em mim, sentir meu gosto... Tasca logo uma mordida, para de frescura!


Meu Deus! Assim, em plena luz do dia, no escritório, mas essa mulher não tinha pudores... Que inveja... Quem seria o sortudo desgraçado que estava no lugar que ele daria os olhos pra ocupar? Por que ela não dizia aquelas baixarias pra ele??


- Vem... Bota logo esses dentes em mim... Me come... Me mastiga... Me bota toda na boca, você me quer mais do que tudo nesse mundo, para de fingir que é mentira... Você não vai parecer mais forte se continuar se fazendo de besta, se continuar resistindo... Cede logo... Cede... Anda... Abre a boca... Assim... Assim...


O coitado já quase não se agüentava mais, queria rasgar a roupa e dizer que ele não resistiria... Ele jamais diria não a ela... Ele diria sim... Somente sim... A tudo que ela quisesse, a tudo que ela pedisse. Ele deitaria no chão para ela pisar, a chamaria de rainha, o que quer que...


Mas como bom estabanado, tudo que ele consegue fazer é derrubar sua pasta no chão, fazendo um barulho estúpido que ele nem podia negar... Não tinha pra onde correr, só podia ficar ali, com cara de tacho... Então se jogou no chão, fez que tinha tropeçado. Botou a mão na cabeça, fingiu que tinha um galo. Uma concussão, quem sabe... Epa... Pra completar, faltava a cara de confuso... Onde estava? Onde...


- Evandro! Você está bem? Eu ouvi um barulho horroroso, você... Você caiu? Tropeçou? Quebrou alguma coisa? Quer que eu chame alguém?


Ela sabia o seu nome... Ela sabia o seu nome... Mas... Ele olhou pra dentro da sala e não havia mais ninguém. Talvez escondido... Não, não havia espaço pra isso... Não naquele cubículo... Ela estava... Comendo? O que era aquilo? Mas que prato mais triste...


- Ah, desculpa... Não te ofereço porque estou começando hoje uma dieta. A comida é terrível, eu sei. Nem eu tenho muita coragem de comer. Pra você ter uma idéia, e eu sei que isso é ridículo, eu estava fazendo um teatrinho comigo mesma... Fingindo que aquele brócolis é um brigadeiro, ou algo gostoso... Mas eu tenho que te confessar... Um brócolis não é nada sedutor...


Não... Ele não precisava que ela chamasse ninguém... Quem sabe outro dia ele não tomaria coragem... E a convidaria para almoçar... Outra hora... Outra hora...

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom adorei, queria que me dessem esse mole!

Luiz com Z disse...

Tadinho. Desejar ser um brócolis, pra conquistar a ruiva e escapar do constrangimento, seria uma solução, mas mais asqueroso só virar uma azeitona.