E lá estavam elas, tão bonitinhas organizadas uma ao lado da outra, em ordem cronológica. Pegou a primeira, lá de cima, uma embalagem de brinquedo antigo, com guache espalhada em cima. Abriu a tampa e sentiu o cheiro do parque de diversões em que o coleguinha do maternal lhe roubou um beijo na bochecha.
Logo em seguida, a caixinha de madeira talhada em que seu melhor amigo guardou a primeira carta de amor que recebeu na vida. Aquele foi seu primeiro namorado sério. Primário e eles beijavam na boca e andavam de mãos dadas pela escola, porque se amavam. Ela achou que seria pra sempre. Tão gostoso aquele cheiro do chiclete de tuti-fruti.
Foi passando os dedos por cima de cada caixa, abrindo uma a uma e sentindo os cheiros de cada lembrança. Aquela do All Star azul que comprou aos quinze anos, o refrigerante com cachorro-quente que lanchou com aquele carinha por quem se apaixonou louca e platonicamente.
A caixa de conchinhas que fez à mão em Búzios, a areia e a água do mar que traziam à mente a clara lembrança daquele surfista loiro todo tatuado. Delícia de amor de verão.
Quem visse de fora certamente a acharia promíscua. É que ela guardava com carinho cada ensaio de romance que a vida lhe trazia. E ela guardava com detalhes, todas as bobagens que passavam despercebidas pela maioria e pra ela eram a melhor parte de se apaixonar. Os cheiros, os gostos, os ingressos de filme, de jogo, as notinhas de restaurante, de supermercado, a cor do batom que deu aquele beijo.
Tudo guardado ali, com tanto zelo e medo de mexer pra não estragar.
Histórias escondidas até então, até o levantar das tampas, o abrir das caixas. Engraçado como reviver tudo aquilo lhe custaria tanto, todas as memórias se dissipando no ar.
Mas ela sabia que cada coisa tinha seu tempo e aqueles amores precisavam ser livres.
E ela precisava do espaço.
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