Ana reconheceu Luiz de longe. Mesmo depois de tanto tempo sem se verem, o corte de cabelo diferente e a barba por fazer, ela jamais esqueceria aquele jeito de andar.
Cumprimentaram-se educadamente na porta do café até que ela sugeriu que entrassem para tomar algo, botar o papo em dia. Por que não?
Ela pediu o de sempre, ele já tinha um novo favorito. Desde que se separaram tinha aberto mão da cafeína. E virado vegetariano. E tantas outras coisas mais que ela torceria o nariz se ele contasse.
Mas Ana falou sozinha. Sobre seu novo emprego, o novo apartamento, o novo homem em sua vida. Talvez O homem da sua vida. E então começou a lembrar de quando estavam juntos, ela e Luiz. De tudo que fizeram errado, da catástrofe que havia sido o relacionamento.
Meu Deus, como eram errados um pro outro. Da diferença de idade aos gostos para... Bem... Tudo. A única coisa em que concordavam era música. E só.
Curioso, né, como eles passaram 2 anos juntos só discutindo, brigando e discordando da vida, mas sempre resolvendo tudo com uma música mandada por e-mail ou mensagem de celular. Eram serenatas de desculpas, perdão. Até o próximo desentendimento, até o dia em que nenhuma música foi capaz de consertar o que havia sido dito ou feito.
O disco deles estava quebrado.
Nossa, como o tempo passou enquanto eles conversavam. Ou enquanto ela falava e ele ouvia, apenas acompanhando com a cabeça. Luiz estava diferente mesmo, talvez estivesse fazendo yoga, ou coisa parecida, de tão calmo e calado.
Despediram-se. Ana disse que seu e-mail continuava o mesmo, que ele mandasse algo pra ela, sugerisse um almoço, ou outro café dia desses. Foi legal se verem, ainda que por acaso.
Ele ficou ali, observando-a se afastar. Pensando nas histórias que ela contou. Foram dois anos. Claro, algumas brigas. Nenhum relacionamento é perfeito.
A diferença é que, nas suas lembranças, eles foram felizes.
Um comentário:
A vontade de ficar sentado para sempre nesse banco, que acontecer uma ou mais vezes na vida... Definitivamente é algo errado, mas não tem como dizer que eu não o entenderia plenamente se ele assim o fizesse.
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