- Ah lá aquele cara sendo babaca de novo.
- Aham
- Sério, não sei como esse povo aguenta ser amigo dele, as besteiras que ele fala.
- Aham.
- Olha aqui, olha!
- Não, cara. Eu tô tentando trabalhar.
- Porra, você não pode olhar um instante? Olha o que ele disse!
- Cara, foda-se o que ele disse. E foda-se o que você acha, eu tô tentando trabalhar.
- Ui, nossa, ele tá tentando trabalhar.
- Beleza, deixa eu ver.
- Aqui.
- Legal, eu concordo com ele.
- Como assim?
- Olha, eu tava querendo evitar essa conversa, mas lá vai. Você conhece esse cara?
- Nem quero.
- Por que?
- Porra, as paradas que nego fala dele... Quero nem conhecer. É o maior mau caráter.
- Sério? E você sabe disso só pelo que os outros falam dele?
- Pô, precisa mais?
- Sei lá, você faz o que da vida mesmo?
- Vai se fuder, cara, você sabe que eu sou jornalista, que nem você.
- Ah, tá. Só queria checar se você tinha esquecido disso.
- Não entendi.
- Se alguém te disser agora que tem uma bomba no vão do elevador do prédio, você vai checar pra ver qual é ou você vai escrever uma matéria sobre isso e apresentar correndo pro seu editor?
- Vou checar, né? Tá me estranhando?
- E por que você não tem esse mesmo cuidado quando vai falar de um cara que você nem conhece?
- Pô, tô falando com você aqui, você é meu broder e tal.
- Para, cara. Eu já vi você falando do cara pra quem quisesse ouvir, em mesa de bar, Twitter, Facebook, você nem se preocupa em averiguar as paradas.
- Qual é a tua, hein Carlos?
- A minha, André, é que eu conheço o cara e eu nem entro nesse mérito. Você nunca sequer me viu defender o cara quando você enche a boca pra falar que ele é isso, fez aquilo, um bando de coisa bem séria pra você falar por aí sem ter um pingo de prova, sabe? E eu fico de boa, porque eu não quero entrar nessa discussão, nesse mérito. Mas eu tomaria cuidado se eu fosse você.
- Isso é uma ameaça?
- De jeito nenhum, não sou desse tipo.
- Quer dizer então que você conhece esse bosta?
- Conheço, André. E conheço a família dele, a mulher dele, os filhos dele.
- Sério que alguém casou com ele? E teve filhos com ele?
- Você não aprende, né?
- Sei lá, cara, as histórias são foda.
- História da tua mulher?
- Pô, minha ex.
- Sério?
- É. Mas nem quero falar sobre isso.
- Que bom, nem eu. Não sabia que você era desse tipo.
- Que tipo?
- Que odeia por tabela. E relativiza as coisas com as quais você deveria ser responsável.
- Que pesado, cara.
- Te garanto que você já falou coisa bem mais pesada do cara.
- Cara, na boa, tu conheceu a ex-namorada dele?
- Você conheceu?
- Não, mas minha ex era amiga dela e vários amigos conhecem ela.
- Eu conheci a garota sim. E posso te falar? Nunca gostei dela. Minha mulher, então, inventava qualquer desculpa pra não ter que ir em encontro da galera quando sabia que ela estaria lá. A Maria odiava a Patrícia com todas as forças. Odeia ainda, na real.
- Como assim, cara?
- Pois é, essa é a diferença entre nós dois. Eu não vou te falar nada do que eu sei. Ou melhor, nada do que eu ouvi. Sabe por que? Porque eu não tenho provas. E hoje ela tá lá naquela emissora, apresentando o tempo e eu não quero que chegue coisa lá que atrapalhe a Patrícia na carreira dela. Ela já deixou o cara em paz, coitado.
- Ela seria capaz de ir atrás dele? Depois de tanto tempo?
- Eu não vou falar sobre isso, André.
- Porra, você levanta a bola e corta a conversa assim?
- Eu não levantei bola nenhuma, eu só comentei que o tanto que você ouviu falar de ruim dele eu ouvi falar de ruim dela. E até já vivenciei algumas coisas, mas eu não me meto na vida dos outros. Mais ainda, eu não transformo em missão da minha vida ficar arruinando a vida dos outros.
- Qual é, cara? E eu transformo?
- Também não disse isso, mas você tem uma aba de pesquisa de um cara que não é teu amigo e você só odeia porque sua ex um dia te disse alguma coisa.
- Nem é isso...
- Ah, é, desculpa. E alguns amigos também.
- Pô...
- De todo modo, cara, eu concordo com o que ele escreveu aí.
- É. Eu não concordo muito não. Mas tá bem escrito até.
- Você não precisa concordar com ele não. Nem comigo.
- Eu sei que não.
- Só duas coisas: Vocês iam se dar bem. E pensa aí como você ficaria se tua ex começasse a falar coisas desse tipo de você pros amigos e a história escalasse como se fosse verdade, como você ficaria.
- Ela não faria isso.
- É, ele também achava isso da Patrícia.
- Como assim a gente ia se dar bem?
- Ou não, André. Sei lá. Tô trabalhando...
Nenhum comentário:
Postar um comentário