domingo, 11 de maio de 2014

Disse me disse

- Ah lá aquele cara sendo babaca de novo.

- Aham

- Sério, não sei como esse povo aguenta ser amigo dele, as besteiras que ele fala.

- Aham.

- Olha aqui, olha!

- Não, cara. Eu tô tentando trabalhar.

- Porra, você não pode olhar um instante? Olha o que ele disse!

- Cara, foda-se o que ele disse. E foda-se o que você acha, eu tô tentando trabalhar.

- Ui, nossa, ele tá tentando trabalhar.

- Beleza, deixa eu ver.

- Aqui.

- Legal, eu concordo com ele.

- Como assim?

- Olha, eu tava querendo evitar essa conversa, mas lá vai. Você conhece esse cara?

- Nem quero.

- Por que?

- Porra, as paradas que nego fala dele... Quero nem conhecer. É o maior mau caráter.

- Sério? E você sabe disso só pelo que os outros falam dele?

- Pô, precisa mais?

- Sei lá, você faz o que da vida mesmo?

- Vai se fuder, cara, você sabe que eu sou jornalista, que nem você.

- Ah, tá. Só queria checar se você tinha esquecido disso.

- Não entendi.

- Se alguém te disser agora que tem uma bomba no vão do elevador do prédio, você vai checar pra ver qual é ou você vai escrever uma matéria sobre isso e apresentar correndo pro seu editor?

- Vou checar, né? Tá me estranhando?

- E por que você não tem esse mesmo cuidado quando vai falar de um cara que você nem conhece?

- Pô, tô falando com você aqui, você é meu broder e tal.

- Para, cara. Eu já vi você falando do cara pra quem quisesse ouvir, em mesa de bar, Twitter, Facebook, você nem se preocupa em averiguar as paradas.

- Qual é a tua, hein Carlos?

- A minha, André, é que eu conheço o cara e eu nem entro nesse mérito. Você nunca sequer me viu defender o cara quando você enche a boca pra falar que ele é isso, fez aquilo, um bando de coisa bem séria pra você falar por aí sem ter um pingo de prova, sabe? E eu fico de boa, porque eu não quero entrar nessa discussão, nesse mérito. Mas eu tomaria cuidado se eu fosse você.

- Isso é uma ameaça?

- De jeito nenhum, não sou desse tipo.

- Quer dizer então que você conhece esse bosta?

- Conheço, André. E conheço a família dele, a mulher dele, os filhos dele.

- Sério que alguém casou com ele? E teve filhos com ele?

- Você não aprende, né?

- Sei lá, cara, as histórias são foda.

- História da tua mulher?

- Pô, minha ex.

- Sério?

- É. Mas nem quero falar sobre isso.

- Que bom, nem eu. Não sabia que você era desse tipo.

- Que tipo?

- Que odeia por tabela. E relativiza as coisas com as quais você deveria ser responsável.

- Que pesado, cara.

- Te garanto que você já falou coisa bem mais pesada do cara.

- Cara, na boa, tu conheceu a ex-namorada dele?

- Você conheceu?

- Não, mas minha ex era amiga dela e vários amigos conhecem ela.

- Eu conheci a garota sim. E posso te falar? Nunca gostei dela. Minha mulher, então, inventava qualquer desculpa pra não ter que ir em encontro da galera quando sabia que ela estaria lá. A Maria odiava a Patrícia com todas as forças. Odeia ainda, na real.

- Como assim, cara?

- Pois é, essa é a diferença entre nós dois. Eu não vou te falar nada do que eu sei. Ou melhor, nada do que eu ouvi. Sabe por que? Porque eu não tenho provas. E hoje ela tá lá naquela emissora, apresentando o tempo e eu não quero que chegue coisa lá que atrapalhe a Patrícia na carreira dela. Ela já deixou o cara em paz, coitado.

- Ela seria capaz de ir atrás dele? Depois de tanto tempo?

- Eu não vou falar sobre isso, André.

- Porra, você levanta a bola e corta a conversa assim?

- Eu não levantei bola nenhuma, eu só comentei que o tanto que você ouviu falar de ruim dele eu ouvi falar de ruim dela. E até já vivenciei algumas coisas, mas eu não me meto na vida dos outros. Mais ainda, eu não transformo em missão da minha vida ficar arruinando a vida dos outros.

- Qual é,  cara? E eu transformo?

- Também não disse isso, mas você tem uma aba de pesquisa de um cara que não é teu amigo e você só odeia porque sua ex um dia te disse alguma coisa.

- Nem é isso...

- Ah, é, desculpa. E alguns amigos também.

- Pô...

- De todo modo, cara, eu concordo com o que ele escreveu aí.

- É. Eu não concordo muito não. Mas tá bem escrito até.

- Você não precisa concordar com ele não. Nem comigo.

- Eu sei que não.

- Só duas coisas: Vocês iam se dar bem. E pensa aí como você ficaria se tua ex começasse a falar coisas desse tipo de você pros amigos e a história escalasse como se fosse verdade, como você ficaria.

- Ela não faria isso.

- É, ele também achava isso da Patrícia.

- Como assim a gente ia se dar bem?

- Ou não, André. Sei lá. Tô trabalhando...


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