- Amor, tava aqui pensando. A gente bem podia pendurar uns quadros, né?
- Tipo agora?
- Sim, agora.
- Que quadros?
- Aqueles pequenininhos que a minha irmã me deu, dos Beatles.
- Aham. Tá. Em que ordem você quer pendurar?
- John, Paul, George, Ringo.
- Sério?
- Sim, por que? Você penduraria diferente?
- Qual a ordem do Abbey Road?
- Sério?
- Anda, pesquisa.
- John na frente, Ringo, Paul, George. Mas se for assim eu prefiro a ordem do Sgt. Pepper. Gente!!!
- Que?
- É a mesma ordem. Só que da esquerda pra direita. Será que é sempre essa ordem?
- Eu não vou ficar conferindo todas as capas de disco agora.
- Tá, mas eu não quero a ordem do Abbey Road. As pessoas vão chegar aqui e pensar que é o nosso disco favorito.
- Mas é o meu disco favorito, Diana.
- Você não mora sozinho, Paulo.
- Tanto faz, não é como se a gente recebesse visita mesmo.
- Como é que a gente vai receber visita com essa casa? Se pelo menos tivesse uns quadros na parede...
- Tá, entendi. Vamos pendurar essa merda. Em linha? Ou tipo dois em cima, dois embaixo?
- Reto eu não acho boa ideia.
- Por que?
- Porque você não consegue colocar nada alinhado com nada.
- HEIN?
- Você realmente quer voltar à discussão da televisão?
- O que você sugere, então, Diana?
- Pendurar tudo meio loucão e a gente finge que é estilo. Um pra cá, outro pra cimão, outro bem pra baixo e assim vai.
- Loucão?
- Sim, mas equidistante.
- Então não é loucão.
- Mede, Paulo. Toma prego e martelo.
- Aqui?
- Pra baixo só meio milímetro.
- MEIO milímetro?
- Aí.
Martela martela martela martela.
- Ficou bom?
- Ai, que lindo. A gente tem quadros na parede. Amei. Agora outro.
- Aqui?
- Mais pra esquerda. Um pouco mais. Um pooooo... AÍ! Só mais pra baixo um dedo. AÍ!
- Posso martelar?
- Aham.
Martela martela martela martela.
- Gente, que emoção! Dois quadros.
- Vamos logo, Diana. Eu quero ver o jogo.
- Aff. Tá.
Martela martela martela martela martela martela martela martela.
- Pronto, né?
- Sabe o que eu pensei, amor? Que a gente podia aproveitar e pendurar aqueles seus quadros.
- Quais?
- Os que eu te dei de aniversário de namoro 2 anos atrás.
- Sutil, Diana. Sutil.
- Eu me esforço.
- Tá, pega lá os quadros.
- Já estão aqui.
- Aposto que você tem uma sugestão loucona de como pendurar, né?
- Na verdade, eu pensei que a gente pode encaixar aqui entre esse e esse e o outro bem aqui, ó.
- Hmmm...
- Que foi? Não?
- Não. Pior que ficou bom. Gostei. Tem um conceito.
- Claro que tem um conceito. Eu sou toda conceito. Conceito puro.
- Menos. Dá outro prego.
Martela martela martela martela martela martela martela martela.
- Gente! Que coisa LINDA!
- Tá bom? Gostou? Posso ver o jogo?
- Pode. Deixa só eu tirar... uma... foto... pera... tô postando no Instagram. Pronto! Lindo. Quer uma cerveja, amor?
- Boa. Deixa eu até curtir sua foto, né, senão já viu. Olha! Minha mãe comentou. Quer visitar, ver a decoração de perto.
- Hmmm...
- Você que disse que a gente poderia receber visitas. Minha mãe é visita, né?
- Sabe, a gente podia primeiro botar aquela prateleira, né? Se ela vier aqui agora vai ficar reparando que a gente tem pouca coisa, vai achar que a gente é pobre, tá passando necessidade, que você devia ter ficado na casa dela e...
- Respira, Diana.
- Hum.
- Que?
- Acabei de notar que essa ordem tá parecendo com a capa do Revolver.
- E?
- Eu tenho péssimas memórias desse disco.
- Quer que eu desconverse?
- Por favorzinho?
- Posso deixar os quadros assim?
- Aham.
- Tá. Pega a cerveja?
- Te amo.
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