- Vai ali na cozinha e traz os pratos pra mim? Os azuis.
Olga organizava a mesa do almoço de domingo quando recebeu a ligação do filho confirmando sua presença.
- O Carlinhos vem com a esposa.
E a presença da esposa.
Olga odiava a esposa do filho.
É claro que ela não falava isso pra ninguém, mas não é como se disfarçasse muito bem.
Ela entendia de etiqueta, sabia todos os garfos corretos e as taças que usar em cada momento, mas não sabia esconder quando algo a desagradava.
Desde a primeira vez em que a menina entrou em sua casa, com aquele cabelo colorido e todas aquelas tatuagens, Olga sabia que o filho só podia querer puni-la por reclamar de todas as namoradas anteriores.
A menina não tinha nenhum apreço por regra alguma, de etiqueta ou de qualquer outro tipo. Não fazia questão de passar nenhum feriado religioso ao lado da família, tinha vezes que, inclusive, insistia em viajar, só pra passar a data bem longe de todo mundo.
Não era batizada.
Não fez primeira comunhão.
É claro que não quis casar na igreja. Nem vestir branco.
"Vamos fazer só um jantarzinho? Pra comemorar com a família?"
Não, eles preferiram que o dinheiro virasse uma viagem. Certeza que a ideia tinha sido dela, uma coisa tão anarquista como essa jamais teria vindo de Carlinhos, menino bonzinho que sempre foi.
Até começar a namorar com ela. Em pouco tempo já estava ele com as tatuagens, roupas esquisitas e até brincos.
Onde já se viu homem de brincos?
Quando a prima do marido se casou, com tudo dentro dos conformes, diga-se de passagem, é claro que ela teve que fazer alguma esquisitice e apareceu de calça.
Podia ter ido de vestido, como todas as meninas, mas parece que tem alergia a saia, só isso explicaria.
Pelo menos não botou uma melancia na cabeça, Olga sempre lembrava disso pra se acalmar.
- Eles já devem estar chegando, separa lá aquela bebida esquisita que eles gostam.
Eles. Eles. Eles nada, coisa daquela doida, provavelmente de quanto viajou pra Tailândia. Quem vai pra Tailândia, com tanta cidade na Europa pra conhecer? O que se compra na Tailândia, pelo amor de Deus?
Tanta menina normal pro Carlinhos casar e ele tinha que escolher uma que fica enfurnada em computadores programando sabe-se lá o que até tantas horas.
Não que ela conversasse sobre isso com o filho, mas todos suspeitavam até que ele tinha o menor salário da casa.
Só assim pra ela ser tão independente, tão despreocupada com a opinião dele antes de fazer as coisas.
E olha que ela nem estava falando só da decoração da casa, ou do que fazer pro jantar, mas de viagens mesmo e de mais um tanto de coisas que ela simplesmente avisava o coitado que já tinha decidido fazer.
- Oi, Mãe. Vou cumprimentar todo mundo lá dentro.
- Oi, Olga. Que lindo, tá tudo lindo, aliás, como sempre. Você sempre faz as coisas com tanto bom gosto. Precisa de alguma ajuda, falta alguma coisa?
- Não, imagina. Daqui a pouco vamos servir o almoço. Pode esperar lá dentro com todo mundo.
Ainda por cima era sonsa a infeliz. Olga tinha certeza de que ela só fazia essas coisas pra impressionar o marido, fazer média mesmo, não era possível.
E estava mais magra. De novo. 35 anos e nada de filhos. Até quando ela pretendia insistir nessa palhaçada de que não precisava ter filhos pra ser feliz? Já estava casada há 6 anos e nada de filhos. Nada de netos!
Garota egoísta.
Olga odiava a esposa do filho.
Por que aquela garota tinha que ser assim?
- Onde estão os pratos azuis?
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