quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Encasulamento

Aquele deveria ser o dia mais feliz de sua vida. Um dia cuja perfeição poderia ser maculada tão somente pela sua ansiedade.


Aquele deveria ser o homem da sua vida. A pessoa certa. Sem sombra de dúvidas, o único que poderia completá-la, amá-la e respeitá-la, mesmo nos momentos difíceis.


Mas ela não estava certa. A cada passo que dava em direção ao altar, mais vontade sentia de apertar o braço de seu pai, de frear e voltar. E se ela não fosse feliz para sempre? Sequer podia dizer que estava feliz então, quanto mais depois... Anos e anos depois.


Ainda dava tempo de voltar, o padre ainda não havia dito “pode beijar a noiva”.


E se o amor acabasse antes da hora? Será que ele estava lá, pra começo de conversa?


E se faltasse respeito? Pior... E se o respeito fosse pura hipocrisia, na tentativa de evitar brigas que não pudessem jamais ser reparadas depois?


E se a felicidade não fosse suficiente?


E se a tristeza fosse maior que tudo?


E se a riqueza os cegasse e os impedisse de enxergar as coisas realmente importantes?


E se a pobreza fosse tanta e tamanha que os levasse a um ressentimento mútuo?


E se lhes faltasse saúde?


E se a doença tornasse um deles um transtorno para o outro?


E se a morte não os separasse, mas a própria vida? As coisas mudam, não é? As pessoas mudam...


Ela reconheceu poucos rostos no percurso, sentia como se o oxigênio fosse lhe faltar antes que conseguisse chegar ao final. Viu amigos, antigos casos e até ex-namorados com quem mantivera um bom relacionamento.


A cerimônia foi um grande borrão. Ela tinha a impressão de que precisaria que a cutucassem para que soubesse a hora de falar. Como uma atriz que esquece a fala na estréia da peça, na cena mais importante, quando toda a iluminação do palco se concentra sobre ela. Mas parecia estar no piloto automático. Embora ausente, conseguia cumprir sua função.


O padre perguntou se alguém ali se opunha àquela união. Que falassem naquele instante, ou guardassem seus motivos consigo, calando-se para sempre.


Seria com ela? Poderia ela arrancar o véu e gritar que tinha dúvidas? Que aquele vestido estava lhe dando uma coceira impossível? E que tudo que ela mais queria naquele momento era tomar um Prozac tamanho família, ou doses cavalares de qualquer bebida alcoólica que fosse capaz de derrubá-la até o dia seguinte?


Mas ficou quieta.


E o seu silêncio ecoou ensurdecedor pelas paredes da capela, junto com todas as lamentações daqueles que consideraram inapropriado manifestar seu arrependimento, seu amor nunca declarado, ou mesmo seu amor já milhares de vezes professado.


Quem sabe... Talvez todo aquele mal estar fosse embora com o tempo...

7 comentários:

Unknown disse...

o melhor ! bateu o outro !
vc é sensacional !!!!

luv ya, pequena verissima =p

=*********.......

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

qual a questão da sua vida? viver na dúvida ou se inspirar através de intuições, ou racionalidades. O bem estar deve sugir através de pessoas que façam-lhe sentir o mais bem possivel e ao mesmo tempo não seja-lhe condizente com o que lhe fala, pessoa que te ame de verdade!

Anônimo disse...

Presenciei uma história parecida e real. No dia do casamento ela disse que sabia que estava casando para separar em uma semana. Bem, já se passaram alguns meses e ela continua. Mas que só o fato de ter uma dúvida assim já seria o bastante para me fazer adiar. Afinal, o ideal é que queiramos que seja pra sempre...e que seja eterno enquanto dure...

Anônimo disse...

Por essas e outras é que eu nunca me batizei, quanto mais sonhei em casar na igreja. :D Já bastam os problemas do casal, imagina transformar um ato de amor numa cerimônia vetusta.

Anônimo disse...

Do que a gente tem tanta certeza? A vida é tentativa e erro, não é?

Anônimo disse...

Que lindeza de retrato do desespero da incerteza.
Meus parabéns minha amiga! Isso tá muito bonito!