domingo, 23 de dezembro de 2007

Versões do dia seguinte

Sentada entre as amigas, no tradicional almoço de sábado, ela conta sobre sua sexta.


- Então... Foi ótimo. Ele é super inteligente, engraçado pra caramba, A gente saiu pra jantar naquele lugar novo que abriu, sabe? Comida maravilhosa, conversa interessantíssima, a gente se entende muito bem, ele pensa muito parecido... Depois fomos pra casa dele, né... Pra comer a sobremesa... E-X-C-E-L-E-N-T-E... Simplesmente espetacular! A noite inteira, me deu uma canseira, vocês nem imaginam... Era exatamente o que eu tava precisando, especialmente depois do Edu. Mas eu acho que não vai passar disso, não estou com cabeça pra um relacionamento tão em cima do outro...


Em outro canto, depois da corridinha certa de sábado, ele comentava com o melhor amigo...


- Cara... Essa mulher é sensacional, você não tem idéia. Inteligente, cara... Inteligente! E com um senso de humor que você não tá entendendo... Ela achou graça daquela piada que eu te contei outro dia, não deu chilique dizendo que era nojento, machista, nada do tipo. E ela não pediu saladinha!! Ela comeu de verdade, pediu carne, cara! Carne! Sem neuras, fiquei impressionado. Foi tudo muito legal... Eu acho que pode dar certo. E eu já não agüento mais ficar solteiro, só não conseguia achar uma mulher que me interessasse tanto assim. Mas agora... Acho que dessa vez é pra valer, cara... Dessa vez é pra valer...

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Das idas benvindas...

Despedidas são despedidas. Não importa se são “Adeus, tenha uma boa vida”, “Até logo, nos vemos mais tarde” ou “Espero que um dia nos vejamos de novo”. Despedidas são despedidas.

Envolvem a separação dos corpos, a separação das almas, representam um fim.

Para quem vive intensamente cada momento, compreendendo que o mais ínfimo segundo pode conter uma eternidade única que jamais se repetirá no segundo seguinte ou em outro segundo qualquer, uma despedida é catártica. Além do fim, representa uma morte.

A morte do que existia ali, naquele instante. Até aquele instante. O que estava cheio de súbito se esvazia. Cheio do que quer que fosse. Seja amor, paixão, tesão, ou simples possibilidades. Mas possibilidades nunca são simples...

Muitas vezes, é mais difícil desfazer-se dos “quem sabe”, “talvez”, “imagina se fosse” do que daquilo que realmente estava lá e de repente já tinha deixado de ser a razão do seu sorriso furtivo no meio do dia.

O possível ainda habita o campo da fantasia, nos permite sonhar, mesmo que escondido, pra que ninguém jogue areia ou água fria em nossas idéias secretas e tolas, infantis e perfeitas demais.

E o instante que imediatamente segue a despedida, aquele primeiro instante em que você se vê sozinho, é quando o peso das expectativas que até então haviam sido ignoradas se joga com toda a força sobre seus ombros, senta-se em seu peito como um enorme elefante. O emocional toma de assalto o lugar que até então era reinado soberanamente pela razão.

É tristeza? Depressão? Não.

É uma ressaca pós-despedida. Que nos acomete exatamente quando constatamos o vazio deixado pelas possibilidades. Como se nos tivessem sido elas tiradas não uma a uma, mas de uma só vez.

Mas todo vazio abre espaço a ser preenchido. Todo fim abre caminho pra um novo começo.

Essa dor é uma dor sentida só pelos que têm a coragem e o prazer da entrega por inteiro, sem ressalvas. Receber é bom. É bom demais.

Mas nós existimos temporariamente por aquilo que recebemos. E vivemos pra sempre naquilo que damos...

Pois que doa...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Reencontro

Foi um daqueles abraços que começam sem querer terminar.

Do tipo querendo lembrar como era bom estar assim junto.

Daqueles que suspiram. Respiram fundo, como se fossem puxar o outro pra dentro de si.

Pra lembrar o cheiro.

Quase sentir o gosto.

Trocar o calor.

Que fazem o tempo parar, só pra não atrapalhar.

Nada mais existe além daqueles dois corpos ali abraçados.

Foi um daqueles abraços que ficou muito tempo sem e sabia exatamente onde queria chegar.

Daqueles que simplesmente não querem acabar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Destino

E ela, que sempre lutou para chegar onde queria chegar,

Um belo dia se viu lá.

Olhou pro lado e só conseguia pensar...

O que estava fazendo da vida?

Percebeu que sequer sabia onde estava...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

terça-feira, 16 de outubro de 2007

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Compartimentos

Aprendi há certo tempo a compartimentalizar as histórias. Talvez até tenha começado por preguiça de contar tudo para todo mundo, repetir infinitamente os causos para todos que pedissem para ouvir ou ler o relato. Talvez tenha continuado por perceber que nem sempre é bom contar tudo para todo mundo. Preservação pessoal.


No fim, sei que encontrei conforto no fato de saber que nem todos sabem de tudo, então cada um sabe um pedaço apenas do todo que eu estou naquele momento. O todo que sou, quem me conhece, sabe bem como é... Mas ser é diferente de estar. E o meu estar agora é modulado.


Em cada módulo sei o que vou encontrar. O que posso esperar. E dependendo do meu estado de espírito, sei onde procurar o que estou precisando. Existem os módulos duros, que freqüento para ouvir a verdade que dói. Existem os módulos superficiais, que visito quando apenas quero desabafar de leve... Sem ouvir análises muito complexas sobre o que estou fazendo da minha vida, onde estou errando, o que deveria estar tentando buscar...


É uma farsa, na realidade. Mas funciona. Não conheço quem queira ser julgado o tempo inteiro... Também não conheço pessoa saudável que queira viver constantemente num mundo de fantasia, onde todas as coisas obviamente erradas, ou minimamente questionáveis que faz nunca resultam em um puxão de orelha... A vida não é cor de rosa, e as nuvens não são feitas de algodão doce...


Em meio a esse labirinto cheio de portinhas estratégicas, me peguei pensando sobre o sermos quem os outros vêem. Seríamos, então, quem fazemos os outros enxergar? Será que essa liberação seletiva de informação faz diferença na percepção que os outros têm de você? Será que o estar é mais forte que o ser? Ou será que não faz diferença, já que o observador sempre imprime toques pessoais sobre a sua observação?


Às vezes me vejo confusa diante do que eu vejo nos olhos dos outros... Como um filme. Versões de mim mesma. Interpretações. Para uns, sou um drama. Para outros, uma comédia. Romance. Filme cabeça. Documentário. Descrita como assustadora, bagunceira e espaçosa. Recentemente convencida de que parte de mim ainda estrela um desenho infantil.


Sento e me assisto...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Caldeirão

O novo cd do Maroon 5 tocando no computador, e eu olhando fixamente para as imagens caleidoscópicas do Media Player, esperando sinceramente que me hipnotizassem a ponto de organizar meus pensamentos. A ponto de me permitir gerar um texto bom. Ou no mínimo razoável.

Tantas idéias. Tantas coisas passando pela minha cabeça. Mas não adianta. E as letras só pioram minha confusão. Muita coisa que eu queria ter dito... Muita coisa que eu queria ter ouvido ser dita pra mim. Minha mente fervilha, borbulha e bagunça ainda mais o que eu achava que poderia ser inspiração.

Observo os nomes no MSN. Tantos com quem queria falar apagados. Mas aquilo não é hora de estar online, convenhamos. Tantos ausentes da minha lista. Queria que estivessem ali.

Fico lendo sobre amor. Sobre saudade. Vejo algumas fotos e o coração fica pequeno.

Renata está atrasadíssima para ir dormir. Danilo informa mais do que em cima da hora que está partindo para ficar um mês fora. Pedro pergunta o que ainda faço acordada...

Realmente. Muita coisa para dizer. Para cada um. Não para qualquer um...

sábado, 25 de agosto de 2007

Hipérbole

- Filhinha, você está bem?


- Sim, mãe... Por quê?


- Porque você lavou os pratos... Logo depois de comer... E sem que eu precisasse pedir. Você está doente?


- Não, mãe... Estou bem.


- Acho que o mundo vai acabar...


- Claro, mãe... Com todo esse problema do aquecimento global... Com toda essa fome no mundo... Com toda a violência, as guerras... O mundo vai acabar porque eu lavei os pratos voluntariamente...

Verdades, inverdades e outras tantas possibilidades...

Exercício literário. Parar de buscar uma explicação lógica para as coisas e começar a enxergar as infinitas possibilidades que uma mesma cena apresenta. Nenhuma verdade é absoluta.


Trilha sonora no MP3, passo pela porta de um bar e vejo um casal. Ela catatônica. O choro parecia preso, engasgado. Mas a intenção estava ali. Olhava pra baixo, pra mesa. Os braços meio cruzados na frente do corpo. Ele com uma cara mais tranqüila. Olhava pra ela, mas o corpo parecia afastar-se da menina. Mesmo quando botou seu braço sobre o ombro dela, ainda assim parecia distante. Parecia estar fazendo aquilo para seguir um protocolo esperado, quase sem emoção real.


E esta análise supostamente imparcial já vem carregada de “assumismos”. É totalmente privada de imparcialidade. Qualquer um que a ouvisse ou lesse pensaria, ao menos em um primeiro momento, na mesma coisa. Coitada... Levou um pé na bunda... E ele nem gostava mais dela. Só que ela ainda gostava dele, dá pra ver. De repente, nem imaginava que aquilo ia acontecer. Estava toda feliz e... Calma lá... Tá vendo como é fácil começar a viajar e se perder na história de algo que nada mais era do que um casal sentado numa mesa de lanchonete?


Mas por que exatamente esta explicação? E se, por exemplo, alguém conhecido da menina tivesse acabado de morrer? E o rapaz apenas estivesse sem jeito por não saber exatamente o que falar diante de uma situação tão complicada como essa? E você já achando que o menino tinha terminado com a garota... E ele tão apaixonado, tentando encontrar uma forma de confortar a amada... Inadequado, talvez, mas cheio de boas intenções...


E se ela simplesmente tivesse brigado com alguém? Uma briga que ela descreveu como sendo a briga do século, com a mãe, a tia que a criou, a melhor amiga, a prima, o cachorro que comeu o All Star favorito dela... E justo ela, que tem uma quedinha pelo drama, exagerou horrores as proporções da tal briga. O que ela fez parecer uma verdadeira hecatombe nuclear pode muito bem ter sido algo tão tolo que sequer vale a pena dar trela... Melhor deixar passar. E o namorado, que a conhece já há bastante tempo, está escoladíssimo em tais situações. Sabe que deve demonstrar apoio à sua querida, mas não precisa exagerar... De exagero já basta ela...


Podem ser tantas coisas... E a cada música que a seleção aleatória do MP3 escolhe, as possibilidades se recombinam. E eu poderia ficar horas ali, simplesmente viajando... Mas acho que eles não iam gostar de uma pessoa louca os observando tanto assim... Recolho meus pensamentos espalhados e vou embora.