Ele saiu acelerado do carro do metrô e diminuiu o passo assim que passou pela multidão da plataforma.
Olhava pros lados como se procurasse algo ou alguém.
Subiu as escadas rolantes com a calma de quem não tinha qualquer compromisso no mundo, mas não conseguia disfarçar sua ansiedade.
Ela caminhava logo atrás, quase 15 passos contados de distância. Parou ao lado dele por 1 minuto quase cronometrado e ganhou a frente.
Quase coreografado.
Ele seguia olhando pros lados. Agora como se quisesse se certificar de que ninguém o seguia.
Havia encontrado o que procurava.
Mantinham a distância pela rua. Na esquina, enquanto aguardavam o sinal abrir.
Ele parou na farmácia pra comprar o mesmo chiclete de sempre.
Ela seguiu para o apartamento onde se encontravam há 3 anos pra esperá-lo mais 7 minutos.
Uma breve eternidade roubada a cada semana, o momento em que ela fingia não ter se casado com o homem errado.
O tempo era certo pra que ela se despisse e o esperasse nua na cama, luzes apagadas.
Em 3 anos ele só vira seus hematomas 1 vez e a expressão em seus olhos foi suficiente pra que se impusesse a regra.
Só no escuro.
Durante todo aquele tempo ele passava do chiclete à fechadura pensando em como tirá-la de casa. Em ter a seu lado mais que terças-feiras contrabandeadas e viagens em carros separados de metrô.
Sempre que encaixava a chave na porta ele pensava na primeira e única vez em que viu aqueles hematomas.
A expressão no rosto dela era de vergonha.
Como se aquilo a tornasse menos linda, gostosa ou atraente pra ele. Pequenas manchas.
Sentiu raiva. Dele. Do cara que a tinha em casa todo dia.
Pensava apenas em como tirá-la dele.
Desde aquele dia, tudo com que sonhava antes de abrir a porta era com um pouco de luz.
- Posso entrar?
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