terça-feira, 21 de maio de 2013

A lista

Gabi tinha uma lista.

O cara dos seus sonhos precisava cumprir determinados pré-requisitos pra que as coisas seguissem adiante.

Não que ela não ficasse com caras fora do padrão, mas eles quase nunca deixavam de ser algo pontual. Ou ocasional.

Ela tinha toda uma coisa com morenos altos, bonitos e sensuais. Não esperava que fossem a solução de seus problemas, mas era imprescindível que torcessem pro time certo.

Prioridades.

De todas as coisas que podia relevar, o time não era uma delas.

A lista era extensa. Alguns diziam que era impossível.

Talvez.

Mas não é como se a sugestão de sua falecida avó de que aceitasse qualquer coisa que lhe demonstrasse o mínimo de carinho tivesse funcionado tão bem. Pelo contrário, tinha lhe causado apenas problemas.

Ok. Algumas características mais do que provavelmente jamais se combinariam em um mesmo homem. Gabi sabia disso, mas também não estava disposta a desistir.

Alguns achavam que era por saber da improbabilidade que ela insistia na lista.

Assim teria uma desculpa pra ficar sozinha.

O cara ideal nunca apareceu.

Ele não existia.

Por isso seu espanto durante aquele almoço.

Foram duas horas sem querer mexer no celular. A conversa era tão boa que ela sequer fez questão de dar check in. Dane-se que os outros não soubessem onde ela estava.

Ele a fazia rir como há muito não fazia. A ponto de fingir que era charme a mãozinha na frente do rosto pra evitar que a gargalhada exibisse o alface decorando o dente.

Boa ideia pedir salada. Ótima, inclusive.

Pois ele passava em todos os quesitos da categoria triagem de sua lista.

Todas aquelas que não envolviam contato físico além de um abraço ou dois beijinhos educados de oi e tchau.

Gabi se pegou pensando no rapaz e no almoço e na lista a tarde inteira.

Uma tarde que virou uma vida enquanto ele não respondia quando podiam marcar de novo e ela rabiscava qualquer coisa sem sentido em seu caderno de anotações.

- Jantar amanhã? - dizia a mensagem.

Ela engoliu em seco. Sentiu um coração dar um salto mortal dentro do peito e um rebuliço enlouquecido na população de borboletas que tinha até esquecido que habitavam seu estômago.

Jantar. Agora poderiam beber. E dariam o primeiro beijo.

Há quanto tempo ela não pensava nisso. O beijo. Não qualquer beijo. O primeiro. O beijo determinante. Aquele que todos os outros beijos deveriam seguir. O que ela lembraria pela música, pelos cheiros, pelas cores, pelas línguas e bocas e respirações.

Dali saberia se tinham química ou se seriam apenas absurdamente compatíveis intelectualmente. Era bom conversar com ele. Ele a fazia rir, afinal.

Gabi suspirou alto e se pegou escolhendo a roupa que usaria antes mesmo de responder a mensagem.

Estava ansiosa.

Hã muito tempo não ficava assim por um cara sem tê-lo beijado.

Ok, sem ter feito bem mais que um beijo.

Estava nervosa.

Respirou fundo. Primeiro, precisava responder a mensagem.

- Claro! Japonês? - Digitou.

Olhou pra tela do celular congelada.

Não sabia como pontuar. Uma carinha piscando? Uma carinha feliz? Um emoticon especial? Tinha que ser a resposta certa. A carinha perfeita.

Percebeu-se ridícula.

Há quanto tempo não tinha essas dúvidas?

Quando foi a última vez que ficou sem saber o que fazer?

Em que a antecipação de um beijo sequestrou seu foco e concentração?

Sentiu-se uma adolescente.

Boba.

Quase patética.

Lembrou da lista.

Precisava riscar aquele beijo da lista.


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