Lúcia acreditava em horóscopo.
Todo primeiro dia do mês ela corria pra acessar as previsões de Susan Miller, seguia três astrólogos no Twitter e tinha seu e-mail cadastrado no Personare pra saber quando estava passando por um novo trânsito astrológico.
A verdade é que Lúcia era ansiosa. E essa foi sua forma de antecipar todas as coisas e se programar pro que viesse de bom e de ruim a cada mês, semana, dia, hora, minuto, segundo.
Tinha uma agenda em seu telefone toda organizada, com alertas específicos pra que pudesse se preparar psicologicamente para tudo.
Sabia quando era dia de chegar mais cedo no trabalho porque o elevador poderia quebrar, quando cortar o cabelo pra crescer mais rápido e saudável, quando não discutir com os colegas de trabalho porque qualquer bobeira poderia tomar proporções épicas.
Aquele mês tinha tudo pra ser incrível. Susan havia previsto que Lúcia encontraria o amor de sua vida. Seria entre os dias 12 e 13, com o dia 15 especialmente incrível para o romance.
Ela mal podia esperar. Desde o término de seu último relacionamento (os astros indicavam que nada ia bem ali), Lúcia não havia se envolvido com ninguém de verdade. Mas agora ela sabia que tudo apontava para algo bom.
"Você finalmente conhecerá sua alma gêmea,\taurina! E a química entre vocês será algo que você nunca experimentou. Prepare-se pra ser surpreendida!"
Não que ela gostasse de surpresas, mas podia abrir uma exceção pra sua alma gêmea.
Claro que não seria um período perfeito. Nunca é. Naquele mesmo mês Lúcia teria um problema com encanamento. Um vazamento ou inundação. Algo tenso.
Dane-se. Ela ia conhecer o amor da sua vida!
Tratou de montar uma lista com encanadores de confiança, inclusive alguns que atendiam final de semana e emergência, caso um cano estourasse de madrugada. Vai que, né?
Dia 12. Lúcia acordou mais cedo. Lavou o cabelo e fez uma escova bonita. Escolheu seu vestido favorito e o perfume especial. Tinha marcado depilação antes de ir pro trabalho e manicure na hora do almoço. A previsão não especificava a que horas o rapaz apareceria, mas quem conhece o príncipe encantado em plena luz do dia?
Tudo pronto, lá foi ela comer alguma coisinha depois do salão, talvez tomar um capuccino. Ela adorava capuccinos.
Enquanto esperava no sinal pra atravessar a rua, um hidrante explodiu em cima dela. Foi instantâneo. Não se sabe se foi a tampa que atingiu sua cabeça ou a própria pressão da água que a arrastou alguns metros.
Ironicamente, naquele exato momento, Diego começava seu primeiro dia no café que Lúcia frequentava com frequência por ser tão próximo do escritório.
Eles tinham muito em comum e não seria difícil reparar isso. Em dois dias ele perderia o medo e ofereceria um café de cortesia. Não, um capuccino. E a convidaria pra jantar.
Mas quem conhece o amor da vida em plena luz do dia?
Pensando bem... Quem morre atingida por um hidrante?
Nenhum comentário:
Postar um comentário