Fiquei pensando comigo sobre o quanto esses tempos modernos estão aniquilando determinados hábitos que nos traziam profunda liberação em momentos supremos de raiva.
Por exemplo... Com o advento do telefone sem fio, foi-se o prazer solene de bater o telefone na cara de alguém. Você pode desligar o telefone. O impacto para o interlocutor será definitivamente o mesmo, mas você foi privado do prazer de bater com o maldito telefone no gancho. Ficou transtornado tentando se concentrar para apertar o botãozinho do off, talvez até tenha encaixado o telefone violentamente na base, mas não é a mesma coisa, convenhamos...
E quando termina um relacionamento e você tem aquele ímpeto de se livrar das fotos que te façam lembrar do falecido... Antigamente, em alusão aos hábitos de povos antigos, optávamos pelo ritual de rasgar as evidências, junto com cartas e bilhetes, presentinhos e lembrancinhas... Quando queríamos realmente celebrar nossos ancestrais, realizávamos o milenar cerimonial da fogueira, deixando que as labaredas nos livrassem das energias negativas dos relacionamentos passados e nos trouxessem boas energias para abraçar relacionamentos futuros. Eufemisticamente dizendo que nós queríamos era que fosse o infeliz ardendo naquele fogaréu... Mas deixemos isso de lado.
Em épocas de e-mails e fotos digitais, isso tudo abre espaço para o sagrado (e talvez frustrante, cadê o drama contido nesse apertar de botões???) ritual do shift-del. Acabou. Não tem mais jeito. Boa sorte. Te deletei do meu computador. E passar bem...
Um comentário:
Realmente, apagar fotos digitais não tem tanta graça quanto rasgar fotos de papel. Mas ainda assim, vale tanto a pena dar um tchau e deletar tudo.
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